E, por outro lado, porque é que, na maioria dos smartphones, esse efeito é difícil de obter naturalmente, sendo muitas vezes simulado por software?
As câmaras DSLR, atualmente entre as mais populares no mundo da fotografia, possuem diversos componentes ajustáveis que permitem controlar o aspeto final da imagem: mais clara ou mais escura, com mais ou menos grão, entre outros. Um desses componentes fundamentais é o diafragma.
O diafragma pode ser comparado à íris do olho humano. Quando entramos num ambiente com pouca luz, a íris dilata-se para permitir a entrada de mais luz e melhorar a nossa visão e o contrário acontece em ambientes muito iluminados. Este ajuste ocorre automaticamente, mas não de forma instantânea: quem nunca passou de uma estrada com sol intenso para o interior de um centro comercial e ficou momentaneamente “cego”?
Como explica Da Floresta (2014):
“O diafragma é um elemento da câmara composto por várias lâminas semicirculares que formam uma abertura, aproximadamente circular, no centro da objetiva. Através deste mecanismo, é possível controlar a quantidade de luz que entra na câmara e atinge o filme fotográfico (ou sensor), permitindo fotografar em diferentes condições de iluminação. A abertura do diafragma pode ser definida pelo fotógrafo, sendo expressa por uma sequência de números: f/2, f/2.8, f/4, f/5.6, f/8, f/11, f/16, f/22, entre outros.”
Em resumo, quanto maior a abertura (menor o número f/), maior a entrada de luz e mais acentuado o desfoque de fundo — criando aquele aspeto estético e envolvente que muitos procuram nos retratos.
Fonte: Entendendo a Escala do Diafragma
a figura mostra vários diafragmas de câmara desde o mais aberto até o mais fechado
Como se pode observar pela imagem acima, o funcionamento do diafragma é muito semelhante ao da íris humana. Existe, no entanto, um aspeto fundamental a ter em conta ao utilizarmos o diafragma: a relação entre a abertura e os seus efeitos visuais e técnicos.
Quando o diafragma está mais aberto ou seja, quando o valor f/ é mais baixo (ex: f/1.8 ou f/2.8) ocorrem dois efeitos principais:
- Entra mais luz pela objetiva, tornando a fotografia mais clara;
- O plano de foco torna-se mais reduzido, o que significa que apenas uma pequena parte da imagem estará nítida, enquanto o restante ficará suavemente desfocado.
Esta configuração é particularmente útil em ambientes com pouca luz ou em retratos, onde se pretende destacar o sujeito principal, criando um fundo desfocado e suave.
Por outro lado, quanto mais fechado estiver o diafragma (valores f/ mais altos, como f/11 ou f/16), menos luz entra na câmara, tornando a imagem mais escura. Contudo, obtém-se um maior plano de foco, o que permite ter mais elementos da cena em nitidez, sendo ideal para fotografia de paisagem ou situações onde se deseja que todos os planos estejam focados.
Dá para fazer isto nos smartphones?
Atualmente, muitos smartphones oferecem um modo "Pro" ou "Manual", onde é possível ajustar algumas variáveis semelhantes às de uma DSLR, como ISO, tempo de exposição e, em alguns casos, a simulação do valor f/.
Basta abrir a aplicação da câmara, procurar pelo modo “Pro” e ajustar os parâmetros conforme necessário.
Contudo, vale lembrar que os resultados não são exatamente iguais aos de uma câmara profissional. Isto deve-se a factores como o tamanho do sensor, qualidade da lente e algoritmos de processamento de imagem. Em fotografia, tudo é uma questão de equilíbrio entre vários elementos.
Um exemplo prático… num videojogo?
Para ilustrar isto de forma prática (e também divertida), partilho um vídeo que fiz utilizando o modo de fotografia do jogo Horizon Zero Dawn.
Sim, até nos videojogos a lógica do diafragma é aplicada, permitindo-nos simular efeitos realistas com foco e desfoque conforme o valor f/ definido.
Explicação de diafragma de câmara através do jogo Horizon Zero Dawn.
Espero ter conseguido partilhar convosco um pouco do que fui aprendendo ao longo do meu percurso.
Grande parte deste conhecimento foi adquirido através da prática, da curiosidade e da experiência direta aquilo a que chamamos de conhecimento tácito.
O meu objetivo com este artigo é não só aprofundar o meu próprio entendimento, obrigando-me a pesquisar e sistematizar ideias, mas também ajudar-vos a compreender melhor alguns dos conceitos que tornam a fotografia uma arte tão rica e apaixonante.
Se este conteúdo vos despertou interesse ou ajudou de alguma forma, já valeu a pena!
Referências:
DA FLORESTA, R. D. A. APOSTILA DE FOTOGRAFIA.
Fotografia e Ensino. (2014, julho 29). Entendendo a escala do diafragma. https://fotografiaeensino.blogspot.com/2014/07/entendendo-escala-do-diafragma.html